A proposta desse espaço é de fornecer ao nosso público sugestões e críticas de filmes relevantes a psicologia e ao ser humano como um todo. Na publicação número 2 do "Sugestões de filmes" serão tratadas as seguintes obras cinematográficas: Tudo Acontece em Elizabethtown (2005); A Vila (2004); O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2002); O Colecionador de Ossos (1999); Bonequinha de Luxo (1961).
(Para ler os spoilers e a crítica clique no símbolo psinformação embaixo das sinopses)
Tudo Acontece em Elizabethtown (2005)
O filme ‘’Tudo Acontece em Elizabethtown‘’ é dirigido pelo consagrado diretor Cameron Crowe ( Jerry Maguire – A Grande Virada, Vanilla Sky, Compramos Um Zoológico entre outros) e conta com a atuação de Orlando Bloom e Kirsten Dunst nos papéis principais. Ao provocar um prejuízo de 972 milhões para uma empresa de itens esportivos dos EUA após elaborar um tênis que foi um fracasso de vendas, Drew Baylor é demitido vê o seu mundo cair. Ele decide cometer suicídio, contudo, o seu destino muda drasticamente com uma ligação telefônica de sua irmã que o avisa sobre a morte do seu pai de infarto em Elizabethtown, Kentuck, cidade natal de Drew. Assim, ele decide viajar de volta para Elizabethtown para ajudar a organizar o funeral, durante o voo ele conhece a aeromoça chamada Claire, uma figura peculiar. A partir de então ele terá de enfrentar o seu fracasso profissional e emocional em uma cidade em que todos o consideram um vencedor.
Um filme incrível que poderá entrar para a lista de ‘’filmes preferidos’’ de todos aqueles que assistirem. O filme a primeira vista, por ser bem comprido, pode ser um pouco maçante para aquelas pessoas que preferem filmes dinâmicos, contudo, um segundo olhar pode ser apaixonante. Esse filme é riquíssimo em diálogos, com frases memoráveis e conversas inteligentes e profundas entre todos os personagens, principalmente entre Drew e Claire, apesar de, todas as figuras possuírem uma característica interessante e memorável de alguma forma. Assim, o grande foque do filme são seus personagens e as relações que se estabelecem entre eles, o crescimento pessoal de Drew e a influência de indivíduos cativantes durante toda a trama fazem do filme uma relíquia única e que a cada nova visita, apresentam novos aprendizados pessoais e se torna cada vez mais cativante. Abordagens sobre o sucesso profissional, as relações contemporâneas, a busca pelo dinheiro, a influência das cidades grandes e a morte são assuntos tratados através de uma visão moderna, mas ao final do filme, não só a visão do personagem principal como as do próprio expectador muda drasticamente.
A Vila (2004)
O filme retrata a vida de habitantes de uma vila que em 1897 parecia ser um local ideal para viver: tranquila, isolada e em harmonia. Contudo, a vila é cercada por um bosque e lá se esconde uma raça misteriosa de criaturas mortais que são chamadas de “Aqueles de Quem Não falamos”. O medo que entorna a vila faz com que nenhum habitante se arrisque a atravessar o bosque, por mais que tenha vontade de conhecer novos limites. Lucius (Joaquim Phoenix) é apaixonado por Ivy Walker (Bryce Dallas Howardd), uma jovem cega que atrai olhares inclusive do mentalmente desequilibrado Noah Percy (Adrien Brody).
O suspense rodeia o filme durante todo o tempo, o que dá um toque de emoção a mais a uma história já interessante. A forma com que a história é abordada nos leva a acreditar na Vila como uma comunidade campestre e de décadas antigas, a personagem Ivy, uma jovem cega é a fonte de interesse não só dos habitantes da vila como também dos telespectadores. O enigma que rodeia a Vila e o medo de estranhas criaturas nos faz acreditar ser só mais um filme de terror bem feito, mas como tudo que foge ao clichê é mais do que interessante, o filme se torna mais do que horas de distração quando Ivy precisa ultrapassar a floresta, o que ela encontra por trás das cercas de A Vila e o segredo que ela precisa revelar para salvar os seus habitantes e familiares é no mínimo chocante. Um filme que nos leva a uma reviravolta que confunde a nossa mente, além de um espetacular roteiro, é carregado de conteúdos atuais tratados de forma abstrata e maleável. Além de tratar de assuntos já pensados de diversas outras maneiras mais maçantes como por Platão no mito da caverna (habitantes presos em uma caverna que nunca conheceram o mundo real, até que um deles consegue fugir e precisa voltar para salvar seus companheiros). Ao final do filme nos sentimos, no mínimo, enganados pelo enredo e inseridos em uma sociedade mais parecida com a da Vila do que poderíamos detectar.
O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2002)
O filme francês conta com a atuação de Audrey Tautou ( O código da Vinci, Bem me quer Mau me quer) que interpreta a inocente Amélie Poulain que trabalha como garçonete. Um dia encontra na sua casa uma caixa escondida no banheiro e, ao pensar pertencer ao antigo morador, decidi procurá-lo. Nessa trajetória ela encontra Dominique (Maurice Bénichou), colecionador de álbuns de fotos 3x4. Amélie se vê apaixonada pelo moço e a partir de pequenos gestos tenta reencontrá-lo.
Mais um filme francês, que sempre se dão ao luxo de contar com um cenário impecável e nos fazem viajar para uma nova realidade, que diferente de outros, conta com a intensidade e inocência de Amélie Poulain, que depois de grande sucesso de bilheteria, se tornou um grande ícone dos filmes “Cult”. O filme conta a história da doce Amélie, desde a sua mais estranha infância até o seu amadurecimento na cidade de Paris, a personagem conta com características infantis, inocentes e nostálgicas, o que nos faz sentir uma grande admiração e carisma por essa. A sua visão do mundo, a sua independência em relação à realidade que, as pequenas mudanças que gera na sua vida e na vida das outras pessoas e a busca constante de se encontrar em um mundo que contradiz a sua essência, faz da fábula de Amélia uma fábula da nossa própria história.
O Colecionador de Ossos (1999)
O filme se passa em Nova York e conta com a atuação do impecável Denzel Washington que interpreta um conceituado policial, que durante uma investigação, sofre um acidente que o deixa tetraplégico. Após quatro anos vivendo em uma cama, a sua realidade depressiva muda quando um serial killer comete crimes violentos e deixa mensagens nos corpos das vítimas. A policial novata Amelia Donaghy interpretada nada menos do que por Angelia Jolie encontra o primeiro de vários corpos e é convidada para participar da investigação, mas para obter sucesso precisa da ajuda do antigo policial.
Para quem gosta de tramas policiais (viciados em Law e Order e companhia) esse filme é ideal. Uma trama que se passa na cidade dos crimes – Nova York – e conta com a historia de serial killer que esta frenético em busca de novas vitimas e deixa recados para a policia com pistas do próximo assassinato. A recente policial interpretada por Angelia Jolie procura ajuda com um antigo policial, muito conceituado na época em que trabalhava para a policial. Apesar de todos os meios tecnológicos, é a mente dos dois policiais juntos que vai decifrar a mente doentia de quem está por trás do filme. Uma trama que, apesar de todas as apostas, reserva um final convincente e retrata a mente doentia dos psicopatas.
Bonequinha de Luxo (1961)
Holly Golightly (Audrey Hepburn) mora em Nova York e ganha a vida saindo com homens ricos que pagam a ela “50 dólares a cada ida ao banheiro feminino”. Holly conhece o seu novo vizinho Paul Varjak (George Peppard) um jovem escritor que é bancado pela amante. Os dois iniciam uma verdadeira amizade e a missão de Holly de se casar com um milionário parece atrapalha-la na busca de sua felicidade. O filme antigo conhecido pelo seu título original “Breakfast at Tiffany´s” consagrou eternamente Audrey Hepburn e fez a sua carreira. O papel de Holly estava escalado para Marilyn Monroe, mas a nova visão e a maravilhosa atuação que Audrey Hepburn fez do papel, a fizeram conquistar os produtores que substituíram Marilyn pela nova atriz que se tornou a grande estrela de sua década e ícone das próximas.
A cena inicial e mais representativa do filme é a que Holly está tomando café da manhã em frente à famosa joalheria Tiffany´s, para ela aquele lugar é um sonho, ali ela esquece todas as tristezas, simplesmente não se pode ser infeliz na Tiffany´s. Talvez a personagem mais complexa e carregada por bloqueios emocionais, Holly possui uma vida de fuga, ela é inocente, ambiciosa e vive rodeada das futilidades da vida noturna nova-iorquina. Durante a trama Holly precisa encarar os medos de seu passado e encontra no seu novo vizinho Paul o seu grande amigo. Ela é emocionalmente instável, e carregada de tristezas, com uma personalidade conflitante e uma visão pessimista em pleno contraste com a sua inocência, fragilidade e beleza interior (e exterior). O filme conta unicamente com a personagem perturbada e incrivelmente contagiante, em um cenário de uma Nova York dos anos 60 que ficam somente nos sonhos de quem gostaria de ter vivido por lá nessa época, com um figurino que virou sua marca registrada e um romance no mínimo diferente. A verdade é que, ao final do filme, a real identidade de Holly ainda não é percebida a uma primeira vista, e as suas características pessoas são mais marcantes do que a descrição a fundo do personagem. Uma comédia que ficou restrita aos filmes antigos e que não é mais encontrada nos dias de hoje, um romance conflituoso entre dois personagens emocionalmente carregados, um gato sem nome e uma cena final na chuva fazem desse clássico uma escapatória da nossa contemporaneidade e aguçam o interesse por personalidades únicas como eram tanto Audrey quanto Holly.