A falta de
fronteiras no limite entre a razão e a loucura é o cenário para muitas
reflexões. A ideia de isolar quem está fora do padrão de normalidade - que se
baseia em um modelo dado pela sociedade - não soluciona essa questão, já que os
ditos loucos são mantidos reclusos por suas famílias ou afastados do convívio
social com internações.
A loucura é um tema recorrente nas obras literárias, e para ilustrar o tema
será apontada uma narrativa de Machado de Assis, de 1882, “O Alienista” que
dentre muitas questões importantes está uma crítica sobre o cientificismo do
Século XX.
Na obra, o Alienista é um médico de que resolve dedicar-se a pesquisas sobre a
insanidade. Para isso constrói uma casa que hospedará todos os ‘doidos’ da região.
No início os limites entre razão e loucura são bem demarcados, mas, a escolha
dos indivíduos para ocuparem a casa faz com que sejamos expostos a esses
conflitos e com que repensemos essas fronteiras.
A razão é definida como o perfeito
equilíbrio de todas as faculdades; fora daí insânia. Essa é, de fato, sua
primeira teoria e certeza sobre a loucura dos cidadãos. Mas o que é esse
equilíbrio? O que o define? Qual a condição que pode lhe dar a certeza para saber
quem possui o equilíbrio e quem não possui? Qual seria esta fronteira que
delimita no ser humano o que é racional ou não?
O que me é permitido fazer que não seja considerado insano ou louco? E,
principalmente, o que é ser ou estar louco?
No decorrer da narrativa, muitos cidadãos que antes se supunham ‘equilibrados’
acabam recolhidos à Casa Verde, o que leva a seguinte dúvida: se tantos homens
em quem supomos juízos são reclusos, quem nos afirma que o alienado não é o
alienista? A história segue com uma instigante inversão: os loucos são
libertados e os ditos equilibrados, são internados.
O que podemos perceber nesse conto de Machado de
Assis é a relativização desses conceitos, e o conflito sobre integrar ou não
esses indivíduos na sociedade.
Precisamos nos atentar para a luta Antimanicomial, e refletir muito bem
sobre esse tema que até hoje fica escondido do debate público.
“Dentro desta luta está o combate à
idéia de que se deve isolar a pessoa com sofrimento mental em nome de pretensos
tratamentos, idéia baseada apenas nos preconceitos que cercam a doença mental.
O Movimento da Luta antimanicomial faz lembrar que como todo cidadão estas
pessoas têm o direito fundamental à liberdade, o direito a viver em sociedade,
além do direto a receber cuidado e tratamento sem que para isto tenham que
abrir mão de seu lugar de cidadãos.” (Projeto do IX Encontro Nacional de
Usuários e Familiares da Luta Antimanicomial e VIII Encontro Nacional da Luta
Antimanicomial. SBC, 2009.)
Movimento Antimanicomial
Grupo Luta Antimanicomial
Livro "O Alienista" gratuito em PDF
Publicação com autoria de: Marcele Portocarrero
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