quinta-feira, 21 de junho de 2012

O medo protege ou sabota nossas vidas?

Frio na barriga, ansiedade, apreensão, receio, fobia, temor; são apenas alguns dos termos da variância da emoção do medo.
O medo é uma emoção retroativa, ela nos prepara para a evasão. Geralmente, o semblante amedrontado é acompanhado do frio nas mãos, pois o sangue do corpo é direcionado aos pés para preparar a fuga. A seleção natural fez com que os indivíduos receosos permanecessem vivos por mais tempo, e com isso puderam gerar descendentes. Aqueles que não se arriscavam tanto tiveram que arranjar outras maneiras de sobrevivência, além da caça, e provavelmente por isso a pecuária se desenvolveu. Em contrapartida, hoje possuímos inúmeros distúrbios relacionado a fobias e ansiedade - frutos da mesma base emocional básica do medo.  Afinal de contas, o medo protege ou sabota as nossas vidas?

Primeiro, vamos analisar o valor evolutivo que fez selecionar esse tipo de expressão em situações amedrontadoras. Os músculos responsáveis pelo olhar receoso são respectivamente: o Frontalis (2), o Corrugador (3), o Levantador de Pálpebra Superior (4) e o Orbicular do Olho Pálpebral (1). Essa combinação dos músculos da região superior da face produz um temporário aperfeiçoamento tanto na visão vígil, quanto na focal. O Frontalis e o Levantador de Pálpebra Superior fazem ampliar o campo de visão, deixando a visão periférica mais nítida - fazendo com o indivíduo fique alerta a qualquer estímulo ao redor - e o Corrugador em conjunto com Orbicular do Olho Palpebral faz o olhar se focar num alvo - especialmente quando o estímulo perigoso já é reconhecido no ambiente.

Na região inferior do rosto, essa expressão contrai os respectivos músculos: o Risório juntamente com a Plastima (8 e 9) e o Orbicular da Boca (10). Provavelmente, a boca se abre com o Orbicular da Boca para que na situação amedrontadora o indivíduo possa pegar folego com mais facilidade - puxando o ar para o seu pulmão. Não se sabe ao certo o porquê do Risório se contrair em expressões de medo. Contudo, essa musculatura contraída isoladamente na face é um forte indicativo de expressão sutil de medo na pessoa que a manifesta.

O medo pode ser vivenciado em graduações diferentes, e, consequentemente, sua expressão emocional na face é também apresentada em diferentes intensidades:
Dentre todas, o medo é provavelmente a emoção mais pesquisada - talvez pela facilidade de se despertar em quase todos os animais, incluindo o rato (que é a espécie favorita em experimentos pelos pesquisadores).

A partir dessas pesquisas, tudo indica que há duas formas distintas de se vivenciar o medo. Vamos tratar então sobre o temor e a apreensão.

O temor se refere ao medo direcionado. Quando tememos, tememos algo, ou alguém. É quando temos um estímulo relativamente específico que nos amedronta. A apreensão, por sua vez, não possui um fator desencadeante em particular. Está intimamente relacionada a ansiedade quando nos sentimos ameaçados sem saber ao certo de onde vem a ameaça, nem o que podemos fazer para nos proteger.

Em situações comuns, o temor está presente quando evitamos atravessar a rua sem olhar pros lados, ou quando um ladrão nos assalta. Nos dois exemplos existe, respectivamente, o temor dos carros em alta velocidade e de assaltantes. Já a apreensão aparece no dia-a-dia quando nos sentimos desconfortáveis em ambientes pouco familiares, ou quando vamos falar em público. Nos dois casos não existem alvos específicos pare se ter receio - é um medo vigilante, sem objeto desencadeante ao certo. No temor, por termos um alvo  específico, temos mais controle sobre o que podemos fazer para evitar o dano que esse estímulo perigoso pode nos causar - geralmente lutamos, nos paralisamos ou fugimos. Já na apreensão, o perigo é iminente. Não sabemos o que nos causa medo, e por esse motivo, não podemos fazer nada quanto a isso, apenas ficar em estado de alerta.


Essa é uma fotografia de um caminhão militar que trasportava mais de cem garotos que tombou devido a superlotação. Repare bem na foto acima. Há duas experiências distintas de medo neste acidente. A primeira é a vivenciada pelos meninos pulando do caminhão. Os garotos sabem o que os espera caso não fiquem atentos em como sair dali sem muitos danos. O temor da queda ao chão pode ser contornado pelo foco em como eles podem sair dali de uma forma menos danosa. Já o motorista do caminhão não tem muito o que fazer. Ele não sabe o que o espera ao capotar junto com o caminhão. A apreensão dele é generalizada a tudo a sua volta. E, ao contrário dos rapazes na carroceria, que podem prestar atenção em como não se ferir, ele não tem muita opção. A falta de alvo e a impotência causam apreensão, enquanto que o medo específico a algo, e a possibilidade de responder a ele, gera o temor.

E quando estes dois tipos de medo se tornam patológicos?

O temor desproporcional e incompatível com as possibilidades de perigo real resulta em fobias. As fobias são medos patológicos que possuem um estímulo amedrontador específico: aracnofobia (temor extremo de aranhas), claustrofobia (temor excessivo de lugares apertados e de ficar preso neles), acrofobia (temor exagerado de altura), etc.

O pânico se refere a uma experiência emocional de apreensão intensa. O pânico quase sempre se manifesta como crises de pânico. Estas são crises agudas e intensas de ansiedade, com um início abrupto de uma sensação de grande perigo. O indivíduo numa crise de pânico não sabe ao certo o que o ameaça, fica num estado de vigilância tão intenso que relata uma sensação de descontrole do corpo - acompanhado de uma descarga autonômica (taquicardia, sudorese, etc.). Por desconhecer o estímulo amedrontador, a pessoa se sente impotente, sem saber o que fazer para reagir, e isso acaba retroalimentando a sua apreensão.

A que conclusão chegamos? O medo nos protege ou sabota as nossas vidas? Os temores, com seus alvos específicos, fazem com que nós evitemos contato com esses estímulos que sabemos ser perigosos. Já a apreensão ajuda a nos mantermos em alerta, caso haja algo no ambiente que possa nos prejudicar. Entretanto, os temores podem acabar nos privando de experiências importantes e proveitosas para a nossa vida. E a apreensão pode nos contaminar  de uma tal maneira que não nos permite relaxar em ambientes desconhecidos.

Evidentemente, parece necessária uma moderação entre as experiências emocionais de apreensão e temor em nossa experiência cotidiana. Contudo, o equilíbrio perfeito entre o sentir medo ou não, é algo subjetivo e pessoal demais para se dizer qual é.

E você, o que está pesando mais na sua balança emocional, o medo ou a ausência dele?

Publicação com autoria de: Bruno Maciel

Se você gostou desta publicação, clique em "curtir" e confirme em seguida. Logo abaixo comente sobre o texto!