quinta-feira, 7 de junho de 2012

O alienado não é o alienista?

A falta de fronteiras no limite entre a razão e a loucura é o cenário para muitas reflexões. A ideia de isolar quem está fora do padrão de normalidade - que se baseia em um modelo dado pela sociedade - não soluciona essa questão, já que os ditos loucos são mantidos reclusos por suas famílias ou afastados do convívio social com internações.


A loucura é um tema recorrente nas obras literárias, e para ilustrar o tema será apontada uma narrativa de Machado de Assis, de 1882, “O Alienista” que dentre muitas questões importantes está uma crítica sobre o cientificismo do Século XX.

Na obra, o Alienista é um médico de que resolve dedicar-se a pesquisas sobre a insanidade. Para isso constrói uma casa que hospedará todos os ‘doidos’ da região. No início os limites entre razão e loucura são bem demarcados, mas, a escolha dos indivíduos para ocuparem a casa faz com que sejamos expostos a esses conflitos e com que repensemos essas fronteiras.

A razão é definida como o perfeito equilíbrio de todas as faculdades; fora daí insânia. Essa é, de fato, sua primeira teoria e certeza sobre a loucura dos cidadãos. Mas o que é esse equilíbrio? O que o define? Qual a condição que pode lhe dar a certeza para saber quem possui o equilíbrio e quem não possui? Qual seria esta fronteira que delimita no ser humano o que é racional ou não?

O que me é permitido fazer que não seja considerado insano ou louco? E, principalmente, o que é ser ou estar louco?

No decorrer da narrativa, muitos cidadãos que antes se supunham ‘equilibrados’ acabam recolhidos à Casa Verde, o que leva a seguinte dúvida: se tantos homens em quem supomos juízos são reclusos, quem nos afirma que o alienado não é o alienista? A história segue com uma instigante inversão: os loucos são libertados e os ditos equilibrados, são internados.
O que podemos perceber nesse conto de Machado de Assis é a relativização desses conceitos, e o conflito sobre integrar ou não esses indivíduos na sociedade.



Precisamos nos atentar para a luta Antimanicomial, e refletir muito bem sobre esse tema que até hoje fica escondido do debate público.

“Dentro desta luta está o combate à idéia de que se deve isolar a pessoa com sofrimento mental em nome de pretensos tratamentos, idéia baseada apenas nos preconceitos que cercam a doença mental. O Movimento da Luta antimanicomial faz lembrar que como todo cidadão estas pessoas têm o direito fundamental à liberdade, o direito a viver em sociedade, além do direto a receber cuidado e tratamento sem que para isto tenham que abrir mão de seu lugar de cidadãos.” (Projeto do IX Encontro Nacional de Usuários e Familiares da Luta Antimanicomial e VIII Encontro Nacional da Luta Antimanicomial. SBC, 2009.)


Movimento Antimanicomial


Grupo Luta Antimanicomial


Livro "O Alienista" gratuito em PDF

Publicação com autoria de: Marcele Portocarrero


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